Advogado, o prestígio da Advocacia está em suas mãos!


O texto de hoje me foi requerido por alguns notáveis colegas de trabalho que acompanham o blog. Disseram-me que a data de hoje merecia um texto especial, e então me propus a fazê-lo.

Todavia, confesso que o texto de hoje demorou a sair, pois qualquer palavra de incentivo aos Nobres Colegas ficou engasgada juntamente com a chateação de comentários que tive o desprazer de ler no texto publicado há alguns dias no JusBrasil, "Prezado Sr Cliente, a consulta jurídica é cobrada, SIM!"

Notoriamente, a Advocacia encontra-se em um momento de grande desprestígio e desvalorização. Advogados possuem fama de "mercenários", "ladrões", "interesseiros", e muitas pessoas entendem a nossa luta pela valorização da nossa profissão como uma conduta "mesquinha e egoísta", o que muito me desmotiva, pois estou cansada do jeitinho brasileiro de querer desvalorizar o trabalho alheio para pagar menos sempre e levar vantagem às custas dos outros!

Em razão disso, estava bastante desmotivada para escrever este texto, até que algo notório aconteceu! Hoje pela manhã fui surpreendida por uma série de recadinhos por email, whatsapp e facebook de clientes meus (antigos e atuais), parabenizando-me pelo Dia do Advogado!

Um dos recados dizia: "Continue sempre sendo esse exemplo de profissional, ética e comprometida! E não se deixe abater pelos outros, pois nem Jesus agradou a todos!". Fora o carinho explícito em cada palavra, como "Parabéns, querida. Sucesso sempre!".

Tenho que admitir que chorei!

Ter nosso trabalho reconhecido, mesmo quando somos constantemente atropelados pelas críticas, traz uma gratidão indizível, incomparável! E acabei me lembrando de um fato que foi bastante notório na minha vida profissional, e que me auxiliou a valorizar meu trabalho.

Como já contei anteriormente em alguns textos publicados neste blog, sou graduada pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), e recebi meu diploma aos 22 anos. Ainda aos 22 já estava dando a cara a tapa pelos meandros da advocacia.

Em meu primeiro ano de formada atuei muito com Direito do Trabalho (até perceber que não era essa área que queria seguir, como já contei aqui), e logo nos primeiros meses representei a reclamada em uma ação um tanto quanto complicada (aliás, foi minha primeira audiência como advogada).

Ganhamos a ação, o Magistrado manteve a justa causa, e foi tudo lindo! Meses depois, o mesmo cliente me procurou para atuar em outra reclamação trabalhista.

Todo mundo que atua no ramo sabe que representar a reclamada não costuma ser uma tarefa fácil, dada a tendência da Justiça do Trabalho a proteger o empregado. É como se começássemos a "corrida" já com uma defasagem. E o ônus da prova recai todo sobre a reclamada, ou, em outras palavras, sobra para o advogado da reclamada.

O caso, para ajudar, não era tão simples, e na época cobrei o mínimo da Tabela de Honorários da OAB/SP, que, salvo engano, era algo em torno de R$ 3 mil. O cliente arregalou os olhos e disse: "R$ 3 mil? Tenho um advogado que faz essa contestação por R$ 500,00!".

Prezados, entendam que eu estava nos meus primeiros meses de advocacia, e nunca havia me deparado com tamanho aviltamento. A única coisa que consegui responder foi "Ok!". E o cliente foi embora, direto para os braços do advogado de R$ 500,00, que além de tudo era muito mais velho que eu (detalhe que eu, no auge dos meus 22 anos, tinha cara de 18 e olhe lá!).

Chegando em casa, extremamente chateada, comentei com meu pai sobre o ocorrido. E comecei a me questionar se eu não deveria cobrar R$ 500,00 também, afinal acabei perdendo o cliente.

Meu pai não é advogado, é engenheiro. Mas por muitos anos foi o responsável pelas contratações de uma empresa, e atualmente é empresário. Sempre conversamos muito sobre profissão, e posso e devo dizer que devo muito do que sou hoje a ele, pois certamente me auxiliou em tudo.

Desesperada e chateada, contei a ele como fui trocada pelo advogado de R$ 500,00, e falei "mas eu não tenho nome para impor meu preço! Será que devo cobrar menos? Senão sempre vou perder clientes!".

Meu pai respirou fundo, olhou sério para mim e disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo:

"Camila, você está começando sua carreira. Não tem "nome" ainda, mas está formando sua imagem profissional. Todo começo é difícil, mas você tem que pensar a longo prazo: Como você quer ser conhecida? Como o serviço baratinho da esquina ou como uma grande advogada renomada? Se você se contentar em ser o serviço baratinho da esquina, cobre os R$ 500,00, garante esse cliente e seja feliz. Mas lembre-se: você sempre vai ser a advogada baratinha. Seus clientes vão procurá-la pelo preço. E você nunca vai sair disso.

"Agora, se você quer ser conhecida como uma excelente advogada, mantenha seu preço, faça sempre o melhor trabalho que puder, e se valorize! Não vou mentir, você vai perder muitos clientes para o advogado de R$ 500,00. Mas os clientes que a procurarem irão fazê-lo por causa da qualidade do seu trabalho, porque confiam em você. E com o tempo você vai ver como é gratificante quando os clientes nos procuram pela confiança."

Dei uma bufada, voltei pro escritório e resolvi: vou manter meu preço! E paciência! Perdi o cliente, mas tenho a minha dignidade.... um escritório vazio e um monte de contas para pagar!

Ainda por um tempo fiquei remoendo essa história na cabeça. Tinha pouquíssimos clientes, vivia tendo que pedir ajuda para o meu pai para pagar as parcelas da anuidade da OAB, e não foram poucas as vezes em que pensei se não devia ter cobrado os benditos R$ 500,00. Pelo menos teria trabalho, e teria o cliente. Mas confio no "feeling" do meu pai, que é um profissional renomado, e acabava pensando: confia nele! Confia nele! Ele sabe o que fala.

Fato é que passei meses quase sem trabalho. Uma coisinha aqui, outra lá. Até que um dia, voltando do Fórum, ouvi meu celular tocar. Já na tela vi o nome do cliente (o dono da reclamada). Atendi.

"Dra Camila, é o fulano. Lembra de mim?"

Claro que lembro! O cliente que me trocou pelo advogado de R$ 500,00. 

"Dra, lembra daquela reclamação trabalhista, cuja audiência era esta semana?"

"Sim, lembro. O que tem?"

"Eu estou desesperado! Aquele advogado que falei pra senhora escreveu uma contestação HORRÍVEL! Vamos perder, com certeza, e não sei mais o que fazer! Até remédio para ansiedade estou tomando! Pelo amor de Deus, pega a causa! Ainda dá tempo de escrever uma contestação?"

Parei no meio da rua, com o celular na mão... e disse que sim, dava tempo de escrever a contestação. Mas teria que me dedicar exclusivamente àquela causa no momento, pois a audiência era aquela semana (2 dias depois, para ser exata), e teria que dispensar um tempo extra para esse serviço, provavelmente trabalhando a noite toda. Então cobraria R$ 4 mil.

O cliente nem questionou. "Ok, Dra! Parcela em 6x? Passa sua conta por email que já vou fazer o depósito!"

De fato tive que correr com a Contestação Trabalhista, pois, como falei, o caso não era tão simples, e o prazo era curtísimo. Mas no fim conseguimos dos males o menor, e meu cliente ficou satisfeito.

E depois disso, esse cliente já me indicou para vários outros clientes. E já o ouvi dizendo "ela é boa, confia!". Além disso, fechamos um contrato de assessoria, e fizemos uma "limpa" na empresa dele, evitando maiores problemas com reclamações trabalhistas futuras. Agora já faz um bom tempo que ele não tem problemas com funcionários.

Isso tudo foi muito bom para que eu valorizasse o meu trabalho e qualidade dele! Não, eu nunca cobrei R$ 500,00 em uma reclamação trabalhista, mas também não enfio a faca nos meus clientes. Cobro o que é justo, e o que meu trabalho vale.

E assim como eu, tenho colegas de profissão que também não abrem mão dos valores da Tabela de Honorários da OAB, mas já presenciei clientes dizendo a eles "cobra o seu preço, Dr, mas quero que seja com você a ação!".

A confiança e carinho dos clientes é muito gratificante, e no fim você vai selecionando a sua clientela. Você vai perder clientes? Vai! Muitos.

Esses muitos vão acabar correndo pros braços dos advogados de R$ 500,00. Mas muitos ficarão, e esses vão compensar todo o resto, pois valorizam o seu trabalho, pagam com vontade, e a relação advogado/cliente será bem menos conturbada.

A advocacia é uma função social de utilidade pública, não uma atividade comercial. Não podemos fazer publicidade, nem usar jargões típicos de chamada comercial, justamente para não banalizar a nossa profissão. Não somos comerciantes vendendo nosso produto em uma feira, por mais digno que isso seja. Somos intermediários da justiça, e ganhamos a nossa vida lutando pelo direito e bem estar alheio.  E somos tolhidos de propagandas, justamente por isso nossos preços são tabelados.

Advogado, o prestígio da Advocacia está em suas mãos! Agora cabe a você valorizar o seu trabalho ou se conformar em ser o advogado de R$ 500,00.

Vou fazer a você a pergunta que meu pai me fez há alguns anos: como você quer ser conhecido futuramente? Como o serviço baratinho da esquina, ou como um excelente advogado?
Para quem se conforma em ser o serviço baratinho da esquina, sinto muito... por saber que existem colegas de uma profissão tão nobre que se sujeitam a mixarias que mal pagam as contas. E, mais, por saber que um profissional que, em tese, serve ao Direito é incapaz de seguir a própria ética. E se falta garra para lutar pelos próprios direitos, como é que se vai lutar pelo direito do outro?
Aos advogados que lutam dia a dia com garra, força e fé neste caminho cheio de pedras e espinhos que é a Advocacia, brigando pelo que é certo e justo, meus sinceros parabéns!
Feliz Dia do Advogado a todos os Nobres Colegas! E vamos, juntos, nessa luta!

"Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça! - Eduardo Juan Couture.





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