Até Logo, Advocacia!
Desde o início da minha
faculdade de direito eu queria me tornar uma advogada. Não tinha outra carreira
dentro do universo do direito que me atraia como a advocacia. O porquê, não sei
dizer, e naquela época eu também não sabia. Mas, tinha certeza de que era isso
que eu queria mesmo.
No decorrer da
faculdade eu estagiei, relativamente, bastante. Primeiro no fórum da cidade,
depois em um escritório de advocacia e, por último, no MPF. Todos foram
importantes. Mas, sem dúvidas, meus dias de estágio no escritório foram os mais
“emocionantes”.
Em três anos e meio de
carreia, até aqui, tive a felicidade de colher mais frutos bons do que ruins.
Tive a oportunidade de ter meu próprio escritório, como sempre pensei. E
depois, na intenção de crescer mais, fiz uma sociedade. E, também aí, colhi
bons frutos.
No entanto, desde
meados do ano de 2014, quando já tinha meu próprio escritório, comecei a
repensar a advocacia na minha vida. Mas era um pensamento muito meu. Não o
dividi com mais ninguém, a não ser com meu irmão Lucas.
As pessoas, na maioria,
têm certeza de que esta idéia se dá unicamente por causa do financeiro. No meu
caso, não foi só isso, 2014 foi um bom ano financeiramente falando. Mas, em contra
partida, foi o ano que eu mais tive medo, por causa de um problema de saúde do
meu pai. Esta situação me fez repensar TUDO.
Ser advogado é o mesmo
que ser um empresário e empreendedor. Você é que faz o negócio acontecer. O
escritório precisa da sua presença. Os clientes procuram você. A captação dos
clientes se dá pela credibilidade e pela confiança em você. E, mesmo que você
tenha sócios, ou advogados empregados, as pessoas fazem questão de ver você,
falar com você, estar com você.
É um trabalho que não
te abandona. As preocupações tomam conta de você aonde quer que você vá. Os
problemas das pessoas viram os seus problemas. E é inevitável você não os levar
junto com você.
Em contra partida, é
muito gratificante você ver nos olhos do seu cliente o alívio quando tudo se
resolve. Melhor ainda, é sentir a confiança que eles depositam em você. É muito
gratificante, mas, como eu disse, requer muitas responsabilidades. E, por isso,
no meu caso, vivia um turbilhão de estresse sem fim.
Meu pai, que não é advogado,
mas também é empreendedor, quando ficou doente em 2014, precisou fazer uma cirurgia
muito delicada e, devido seu trabalho, não conseguiu fazer todo o tempo de
repouso recomendado. O trabalho exigia a presença dele.
Depois, quando tudo
parecia bem, ele teve uma recaída no começo deste ano. O que me fez refletir de
novo: “Tudo bem, eu gosto de ser advogada, mas, eu gosto mais de viver ao lado
dos meus. Poder ser presença, poder ser inteira para quem precisa de mim, e o
melhor, ser inteira para mim mesma.” Assim eu refleti.
A advocacia não me
proibia disso tudo, pelo contrário. Se você quiser, inclusive, ela pode te
proporcionar um horário bastante flexível. Mas, eu precisava escolher entre ser
uma pessoa satisfeita profissionalmente, me doando ao máximo para advocacia a
fim de colher os frutos que eu buscava, ou, tentar outra profissão que poderia
me proporcionar um pouco mais de estabilidade financeira com um pouco menos
entrega, no caso, a carreira pública.
Eu não acho que a
carreira pública seja fácil, pelo contrário, sei das suas dificuldades também.
Sei que também tem o estresse e outras dificuldades. No entanto, a estabilidade
financeira que o concurso público proporciona te deixa um pouco mais disponível
para cuidar das outras áreas da vida.
Enfim, na tentativa de
me manter motivada na advocacia, entrar para este blog e escrever para esta
coluna foi um dos caminhos que me proporcionou motivos para permanecer no mundo
da advocacia.
Muitos dos emails que
eu recebi dos leitores me ajudaram e me animaram. Foi uma troca muito legal que
eu tive com os estranhos mais do bem que eu conheci: vocês.
Entre todos os emails
recebidos, uma “estranha” em especial partilhou comigo, por meio de vários
emails, uma história de coragem muito inspiradora e, a partir daí, eu comecei a
pensar melhor sobre tomar decisões e ouvir o coração.
Então, depois de um
tempo de reflexão, decidi que a insatisfação que eu sentia só fazia de mim uma
profissional mais ou menos. E eu não queria ser mais ou menos em nada na minha
vida. Meus clientes não mereciam, minha família e amigos não merecem e eu
também não.
Portanto, em julho
deste ano eu saí do escritório, desfiz a sociedade que tinha, arrumei algumas
dores de cabeça, enfrentei a opinião de algumas pessoas, deixei tudo e fui estudar
para concurso público.
Eu ouvi várias pessoas
com várias opiniões, por exemplo: “Allana, porque você não concilia os dois?”
ou então, “Porque você não espera mais um pouco, pensa mais um pouco”. Mas, enfim...
ouvi meu coração.
Muita loucura essa coisa
de ouvir o coração. Mas, sabe, talvez seja o único caminho para viver em paz.
Depois que tomei minha decisão, eu tive paz no coração, sabia que tinha tomado
a decisão correta. A gente só sabe depois que decide.
Logo em seguida a minha saída do escritório, foi
publicado o edital do concurso do Tribunal de Justiça do meu estado, Rondônia.
Estudei focada para este concurso. Estudava, aproximadamente, 6 horas por dia,
e dei o meu melhor, como eu sempre procuro fazer na vida.
Não foi fácil não, principalmente porque eu
estava há mais de três anos trabalhando, fora desse ritmo de prova, de estudar.
Entrar no ritmo não foi fácil. E, também, porque quando você diz que só estuda,
todo mundo acha que você está com tempo sobrando, mas é exatamente o contrário,
a família arruma um monte de favor para te pedir. Tive que aprender a dizer
muitos nãos. Para a diversão também.
Hoje, depois de cinco
meses estudando, depois de vender o meu carro, alguns reais mais pobre, posso
dizer que: continuo estudando, rsrs.
Mas, hoje, exatamente
hoje, saiu o resultado final do concurso do TJ/RO. Foi e, ainda está sendo, uma
alegria muito grande ver o meu nome na lista de aprovados para os cargos de
oficial de justiça e técnico judiciário. A última vez que eu senti assim foi
quando vi meu nome na lista da OAB.
A sensação é
gratificante. E o aprendizado que eu tiro e gostaria de passar para vocês é o de
que somos capazes de realizar qualquer sonho, objetivo ou, como quiser chamar.
Basta estar com o coração aberto para compreender, verdadeiramente, o seu
querer.
Uma vez ouvi alguém dizer
sobre um tal de “querer com o coração”,
eu, sinceramente, não compreendia. Hoje eu compreendo. Querer com o coração é
querer algo tão forte que o coração parece vibrar com a idéia. E quando a gente
conquista, a sensação de êxtase é tão grande que parece que o coração sentiu
aquilo.
Bem, até a minha
nomeação para o cargo de oficial de justiça continuarei aqui fortemente nas
minhas horas de estudo para os próximos concursos. E depois, quando eu for,
finalmente, nomeada, direi à advocacia: “Até breve!”
Eu não tenho más
lembranças, ou qualquer outro sentimento ruim pela advocacia. Apenas escolhi
buscar por um estilo de vida diferente, com um pouco mais de tranqüilidade, mas
só um pouco, porque vida de oficial nem é essa tranqüilidade toda, né?
A vida é um eterno
movimento. Não existe para sempre, tampouco certezas absolutas. Hoje você segue
alguns caminhos, mas amanhã pode ser que eles não mais lhe farão feliz. O
importante é não ter medo de buscar aquilo que é capaz de te traz paz e
felicidade. Por isso, até breve, advocacia!
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Diário do Concurseiro
5 comentários
Ao contrário da articulista, EU NÃO ESTOU ME DESPEDINDO da advocacia.
ResponderExcluirAgora, quase aos 70 (setenta) anos de idade e formado desde 1988, é que me sinto mais motivado a trilhar novos rumos, com PJ-e - Processo Judicial Eletrônico e tudo!!! Estou prestes a abrir um empreendimento voltado para a classe dos advogados em S. Gonçalo-RJ. E sinto-me bastante animado com essa nova perspectiva profissional. Também enfrento dissabores na vida, como a saúde de meu pai, com 93 anos, prostrado numa cama e vítima do Mal de Alzheimer. E nem por isso desisti de continuar meus sonhos, tal como agora adiro-me à Semana da Advocacia Pro Bono, espalhada em todo o País. Faço-o de coração. E não para me promover, à custa dos mais necessitados.
Felizmente, ainda posso gritar, em alto e bom som, para todo mundo ouvir:
"Aqui estou, Advocacia!!!"
E não vou desistir...
Edson Mattos
OAB-RJ 64.999
Prezado Dr Edson,
ResponderExcluireu, Dra Camila Sardinha, idealizadora e autora deste blog também sou advogada com muito orgulho e não pretendo desistir da profissão, pois amo o que faço e não consigo nem conceber fazer um concurso público. Todavia, acredito que cada um de nós tem a sua missão e sua jornada, e não nos cabe julgar o colega que decide por outro caminho, apenas por ser diverso do nosso.
Apoio as decisões das= colega, Dra Allana, e torço pelo seu sucesso sempre!
Abraço.
Dra. Camila: desculpe-me, mas não estou querendo polemizar em nada. O fato é que - ao fazer meu comentário - sobre minha confiança no exercício profissional da advocacia eu sequer fiz com o sentido de criticar ou até mesmo julgar ninguém, por suas atitudes e/ou comportamentos!!! OK? Nem me passou pela mente quaisquer níveis de questionamentos quanto à atitude tomada pela autora do artigo "Até Logo, Advocacia!". Nunca, jamais! Se assim pareceu a quem leu meu comentário, então - por favor - abstraiam sobre quaisquer possíveis ilações e/ou pré-julgamentos que eu não fiz. Certo? OK??? Atenciosamente, Edson Mattos - advogado.
ResponderExcluirDr Edson, a bem da verdade me sinto um pouco triste cada vez que algum colega deixa a advocacia, mas nesta vida temos é que ser feliz, não é mesmo? Eu, assim como o Dr, não pretendo deixar jamais a advocacia, pois é algo que faço por amor!
ResponderExcluirMuito sucesso para nós, Dr!
E um ótimo fim de ano!
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
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